Experts apontam as tendências e transformações do morar motivadas pela pandemia do coronavírus
O que muda no morar após a pandemia do coronavírus? Não é exagero dizer que nunca passamos tanto tempo dentro de nossas casas. Neste período descobrimos novas necessidades, cômodos subaproveitados, e ambientes que carecem de mais conforto. Em termos de arquitetura, o combo boa entrada de luz natural e ventilação cruzada passa a ser mais valorizado.
Historicamente, estes momentos de crise mundial relacionados à saúde influenciam a arquitetura residencial. “Na Idade Média, por exemplo, a peste bubônica transformou os ambientes”, explica Sergio Lessa, coordenador de arquitetura do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo. Na época, as casas quase não possuíam entrada da luz do sol, já que as ruas eram becos bem estreitos. Logo após a disseminação da doença, o espaço público mudou para que as residências pudessem receber melhor iluminação natural.
Desta vez, as mudanças acontecem na maneira como vivemos o lar. Conversamos com especialistas que apontaram as novas demandas da casa pós-pandemia. Veja abaixo.
1. Espaço de higienização
“As questões sanitárias estão sendo meticulosamente revisadas nas residências. Algumas pessoas já tratavam os espaços externo e interno como ambientes distintos, retirando os sapatos antes de entrar em casa, lavando as mãos logo ao chegar da rua, entre outros hábitos. Neste momento, esses hábitos estão sendo incorporados de forma ainda mais acentuada e os espaços domésticos vão sendo adaptados. A tendência é que surjam nas residências espaços pensados especificamente para essa transição do dentro e fora de casa.” – Fernando Vidal, diretor do estúdio global de arquitetura Perkins and Will em São Paulo.
2. Projetar a partir das atividades
“Já venho defendendo a ideia de que não devemos desenhar cômodos da casa, como quartos, sala ou cozinha. Acredito que faz mais sentido desenhar as atividades da casa, como trabalhar, comer, dormir, se divertir… Pensar a casa a partir das atividades, mais do que nunca, será revisto pelos arquitetos. Por exemplo, trabalhar pode ser feito em diferentes ambientes, como varanda ou quarto. Então, teremos mais flexibilidade, como painéis que deslizam, móveis com rodízio, iluminação flexível.” – Guto Requena, arquiteto e designer.
3. Delivery
“Acredito que venha um novo dinamismo de entregas externas nas construções – o acesso do entregador no futuro, virá em um espaço “passa prato”. Uma logística de entrega externa será criada visando o menor contato.” – Patricia Martinez, arquiteta.
4. Horta em casa
“Acredito que o cuidado com a alimentação entra como um ponto crucial neste momento pós-pandemia. As pessoas passarão a optar por ter pequenas hortas em suas casas e apartamentos a fim de cuidar cada vez mais da sua alimentação diária.” – Patricia Martinez, arquiteta.
5. Plantas dentro de casa
“Uma pequena horta, cuidarmos de plantas variadas, flores, mexer na terra… Já existia o urban jungle, e já davamos valor ao alimento querendo saber a procedência do que consumíamos. Mas, agora, torna-se regra e também necessidade. Pois, vamos precisar cada vez mais do contato com a natureza e como o real/o táctil.” – Lili Tedde, trend forecaster
6. Home office
“A volta do uso constante do home office que exigirá um local adequado na casa com privacidade e bom sinal de internet. Este é um quesito que tem aumentando a demanda nos projetos já.” – Juliana Pippi, arquiteta
“Por isso, biombo, divisores, cortinas ou painéis dão mais privacidade para este ambiente. Assim como investir em lousa, quadro branco ou cortiça para dar suporte às atividades do escritório. E uma cadeira mais confortável.” – Guto Requena, arquiteto e designer
“Espaços físicos mais privativos, cadeiras com melhor ergonomia, apoiadores de braços e pés para permitir seguidas horas de trabalho, iluminação adequada e, claro, um background atrativo para as exposições audiovisuais, além da orquídea branca e da estante de livros real ou fake.” – Clotilde Perez, semioticista
7. Vida ao ar livre
“A casa como seu refúgio de lazer. Então, imóveis com varanda e boa entrada luz natural serão ainda mais valorizados. Acredito que as pessoas estão muito mais sensíveis ao uso de cada cantinho da casa. E a conexão com a área externa é cada vez mais a prioridade por proporcionar lazer para a família.” – Juliana Pippi, arquiteta
“Vai mudar a relação da casa com o jardim. Os ambientes terão mais iluminação natural e serão mais ventilados. A combinação reduz o uso do ar-condicionado e melhora da qualidade do ar: bom para a saúde! Os ambientes serão mais integrados com a área externa. E o jardim ganha status de espaço para as família curtir. Com redário, fogo de chão e pergolados.” – Catê Poli, paisagista
8. Revestimentos
“A casa tem abraçado a gente. Materiais que são mais confortáveis ganham destaque: algodão, linho, mantas. Os tecidos e as tramas nos remetem ao aconchego, deixam a casa com carinha de lar.” – Juliana Pippi, arquiteta
“Há tempos que nos nossos livros de tendências explicamos que quanto mais virtuais nos tornarmos, mais iremos buscar a experiência sensitiva. A textura, em forma de tecidos em alto relevo como jacquard, as fibras naturais, a cerâmica, todas com relevos nos trazem de volta à realidade e proporciona conforto. Já os revestimentos em áreas como banheiro e cozinha, terão que ser de fácil limpeza. Mas não descarto tapetes e tecidos com muita textura e que tragam o conforto de se sentir protegido e abraçado.” – Lili Tedde, trend forecaster
“Mesmo antes da pandemia e da quarentena, materiais e revestimentos de difícil limpeza e manutenção já estavam sendo questionados. Refletir sobre a assepsia dos materiais no projeto residencial agora é pré-requisito, não só por praticidade ou custo, mas por questão de saúde.” – Fernando Vidal, diretor do estúdio global de arquitetura Perkins and Will em São Paulo
9. Cantinho para relaxar
“Buscaremos nos acalmar das formas mais alternativas possíveis. Portanto, teremos que reservar um espaço para ser o nosso santuário. Onde poderemos encontrar o silêncio. O banheiro pode ser o nosso spa, com acabamentos mais escuros, para deixarmos a mente acalmar. Teremos menos objetos, acumularemos menos, porém, os objetos que acumularmos terão um valor maior.” – Lili Tedde, trend forecaster
10. Consumo consciente e redução da produção de lixo
“As pessoas pensarão mais para comprar, consumir e descartar o seu resíduo. O consumo desenfreado tende a cair. As pessoas passarão a comprar mais em função da necessidade. Assim como estão mudanças no estilo de vida serão realizadas para reduzir o impacto no meio ambiente.” – Marcus Nakagawa, professor e coordenador do Centro ESPM de Desenvolvimento Socioambiental
Fonte CasaVogue
JULYANA OLIVEIRA | FOTOS DENILSON MACHADO; FILIPPO BAMBERGHI; MAURÍCIO ARRUDA; GETTY IMAGES; REPRODUÇÃO
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